Dilema do Cabo de Guerra: Qual o Papel da Ética em uma Organização?

“A ética, por definição, é a ciência de estudo das ideias morais filosoficamente justificadas”

Ao analisar as duas últimas décadas da história mundial, deparamo-nos com uma série de acontecimentos relevantes ocorrendo quase que diariamente, repercutindo em novas ações, estratégias e comportamentos corporativos em busca de maior competitividade. Desde os atentados terroristas ao World Trade Center, passando pela vitória de políticos como Putin e Lula à frente de economias em desenvolvimento, a crise imobiliária norte-americana, a consolidação da internet como meio de comunicação e o surgimento de novas tecnologias, o mundo empresarial não se vê mais olhando para trás.

O acelerado desenvolvimento da economia coloca em pauta um dilema moral já bastante discutido nas organizações: de um lado, a ética, os princípios e valores da companhia; de outro, as possibilidades de ganhos astronômicos ao assumir riscos até então mitigados. De forma controversa e até paradoxal, esse “dilema do cabo de guerra” assola qualquer empresa.

Na história empresarial brasileira, inúmeras das organizações líderes em seus segmentos sempre tiveram de se sujeitar a condutas antiéticas para celebrar grandes negócios e fechar os resultados positivos de final de ano, satisfazendo expectativas de acionistas, consumidores e do mercado em geral. Nos bastidores desses resultados, esquemas de corrupção, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, nepotismo e outros ilícitos. Os entendimentos sociais, jurídicos e econômicos do século XXI em relação a tais situações têm, no entanto, intimidado – mas não eximido – ditas condutas.

Para crescer, diferenciar-se e desbravar novos mercados, é necessário ousar e inovar. Atualmente, com novas tecnologias e empresas oferecendo produtos e serviços cada vez mais específicos, novos tipos de riscos têm a atenção das companhias. Em qualquer realidade organizacional, para aferir maiores resultados, os gestores podem se sujeitar a situações antiéticas e encurtar caminhos.

A ética, por definição, é a ciência de estudo das ideias morais filosoficamente justificadas. Refere-se a princípios universais entendidos de maneira geral como corretos, independentemente do local ou época. O compromisso ético funciona como delimitador (ou regulador) da atuação empresarial a fim de manter-se dentro dos princípios de um coletivo, e por ser continuamente transgredida é que nos valemos das sanções legais.

Se o principal motivo pelo qual as organizações ponderam seus atos estratégicos e refletem sobre as consequências dos riscos que assumirão são as punições jurídicas, financeiras e de imagem perante a sociedade – derivadas do entendimento de conflitos éticos –, pode-se entender que a ética está para a resistência assim como os lucros derivados de posturas mais arrojadas, porém ilícitas, frente aos riscos estão para a aceleração.

É nítida a necessidade de maior esclarecimento nas empresas quanto às suas políticas de riscos e compliance, a existência de controles eficazes sobre processos complexos, incentivos compatíveis com os valores éticos defendidos pela alta gestão e suporte constante do compliance em situações dúbias para a empresa. Difundir e implementar uma cultura em que a integridade permeie toda e qualquer ação ainda é o maior desafio desse dilema.

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**********Letícia Sugai é sócia das empresas Veritaz Gestão de Riscos e Compliance e Gordion Consultoria. É presidente do Instituto Paranaense de Compliance (Ipacom) e criadora do Movimento “Integridade sempre vale a pena”.

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